O sonho Ícaro e o meu
Dione Fonseca
Desde menina guardo o sonho de Ícaro. A vontade de voar. Ele pensou em tudo e pensou correto. Mas era seu o sonho. Fico imaginando os detalhes daquele homem sonhando imaginando e construindo. Assim como Ícaro, também sonhamos, mas os sonhos nascem dentro de nós e não de fora para dentro. Recordo-me de ver em minha mente a cera derretendo e ele maravilhado com o que via, esqueceu que a cera derreteria com o calor. Momentos vividos jamais esquecidos. O que Ícaro sentiu mesmo maravilhado, o minuto foi dele, o sonho e os momentos. Quantos os invejaram e sentiram a vontade de voar. Mas temos os pés no chão, e a lei da gravidade é a nossa realidade. Sonhamos, imaginamos e queremos e esquecemos do principal: que a cera derrete. Temos ceras diferentes... Temos sonhos diversificados. Como esta vontade de escrever sentimentos nas entrelinhas de escritos no meio da noite. Esta necessidade de escrever, registrar sentimentos. Meus sonhos são meus, meu querer nasce em mim dentro não fora. E sonhamos que faz parte da vida. Mas a cera nos lembra que lá fora este sonho não existe, porque está dentro de nossa essência. Os sonhos de outros, mesmo que de alguma forma esteja algo de nós presente não reflete o âmago de nós mesmos. Amar é sentimento forte, que como a catapulta remete a pedra, mas o impacto que ela causa depende do lugar que vai cair das barreiras encontradas . Talvez por sonhar muito, alce voos imaginários que não causem o impacto que desejaria no outro. Quando amamos, o sentimento é nosso, é único, embora direcionado e querido, o que o outro pensa e sente não nos pertence. Existe o limite onde nunca tocamos, é o que o outro sente. Às vezes desejamos tanto algo que construímos dentro de nós, respostas que são apenas nossas. Quando recebemos um beijo sentimos gosto, sabor e uma sensação tomando conta do nosso ser, e esquecemos de ver que o sentimento é nosso e único. O efeito causado pela pedra da catapulta lançada e recebida já não pertence à mão que lançou, mas sim a quem a recebeu. Não sentimos o impacto nem a causa. Ícaro voou e o que sentiu foi apenas dele. Apenas podemos imaginar e sonhar com o momento. A felicidade, o realizar pode imaginar mas não sentir. E pode ter sido algo diferente, Ícaro pode ter sentido medo, frio e ter se descontrolado. Prefiro construir o sentimento de potência e realização da conquista e dos momentos de êxtase, que jamais serão superados. Um sentimento que avalio pela sensação do encontro da pessoa amada, da felicidade do estar. Mesmo sendo nosso é cheio de paz de encantamento, onde o riso mora e a saudade são perpétuos, que nos fazem levantar no meio da noite e escrever, porque transbordam e querem sair de alguma forma. Existe a realidade que de alguma forma quer nos mostrar que existe a cera, que nossos voos são nossos. A minha prioridade de voar me pertence, e por mais que eu queira e sonhe, existe o limite do querer do outro. Maktub.